sexta-feira, 8 de julho de 2011

Um trabalho de merda, Por Tatiana Achcar.

A colunista do Yahoo!, Tatiana Achcar publicou essa semana um artigo sobre o trabalho de compostagem. Mostrou vários exemplos de cidades que implantaram a coleta seletiva do lixo e criaram cooperativas que trabalham com a compostagem. No texto a autora faz trocadilhos sobre o consumismo exagerado, a divulgação da sustentabilidade e a importância da compostagem, com a dificuldade do homem em trabalhar com restos.

Falar de sustentabilidade é muito fácil, difícil é encontrar pessoas que queram colocar a mão na massa e fazer a diferença nas sua atitudes. Para muitos o resíduo ainda é visto como o destino final do produto que foi consumido, mas na realidade o resíduo pode se transformar em materia prima para outros produtos e ser um grande gerador de renda, além de conservar o meio ambiente!

O artigo é muito bom, vale a pena ler!

http://colunistas.yahoo.net/posts/12211.html

"No discurso da sustentabilidade ecoam extremos: privação e prazer. Extinção, destruição e um monte de nãos de um lado, bem estar, paraísos naturais e soluções milagrosas de outro. Esquecem, porém, que uma coisa não está separada da outra. Onde há vida, há morte. Você consome e gera lixo, você come e produz merda.

Consumir e comer são coisas boas, dão prazer, mas lidar com o lixo e com a merda é um estorvo. Ninguém está a fim de lidar com restos, eles apodrecem, cheiram mal, lembram a morte. Então embala tudo num saco plástico e joga fora, aperta o botão mágico da descarga e manda pra baixo, embebido em água potável. Esconde nos rios, nos mares, em aterros, na periferia das cidades e na periferia do mundo, na Somália, no Haiti, no cafundó.

Esse medo exacerbado do resto virou patologia na sociedade do novo, da homogenização e do controle e pode ser explicado por algum psicanalista, mas o fato é que, para criar uma cultura de qualidade de vida sustentável, a gente vai ter que encarar os temores que vem das entranhas e percorrer um novo caminho entre a privação e o prazer.

Em São Paulo, há dois aterros sanitários monstruosos, o Bandeirantes e o São João, que, segundo esta reportagem, ocupam juntos a área de 270 estádios do Maracanã, pesam o equivalente a 80 milhões de fuscas e chegam à altura de um prédio de 50 andares. Eles atingiram sua capacidade máxima e não funcionam mais. Mas a cidade não para, a cidade só cresce e produz, todos os dias, 17 milhões de toneladas de resíduos, dos quais 10 milhões são de lixo doméstico embalados em sacos plásticos, verdadeiras bombas de metano. De tudo isso, apenas 1% é reciclado e 94% vão direto para o aterro, sem nenhum tipo de triagem.

Onde há problema, há oportunidade. A cidade de São Francisco, na Califórnia, criou a primeira coleta urbana de larga escala do país de restos de comida para compostagem. Atualmente, centenas de milhares de moradores e cerca de cinco mil restaurantes e outros negócios encaminham, diariamente, 600 toneladas de restos de comida, poda de jardim, filtro de papel, caixa de pizza, pauzinho de comida japonesa e outros materiais para uma usina de compostagem. A gororoba vira um adubo rico em nutrientes, devolvido à população e usado para cultivar os alimentos orgânicos e os vinhos de alta qualidade que a cidade é famosa em oferecer.

O esforço para chegar nesse estágio maduro e atingir a meta de reduzir as emissões de gases do efeito estufa é de todos. A população se compromete a separar o lixo em conteineres distintos e fica sujeita à multa se sair da linha, a prefeitura se encarrega da coleta e entrega e uma cooperativa assume a compostagem, que pode ser feita em empresas, escolas, condomínios, restaurantes, eventos, hoteis e nos municípios de qualquer canto do planeta. Invariavelmente, essa alquimia reduz em cerca de 50% o lixo doméstico, alivia a demanda por aterros sanitários já sobrecarregados, evita a formação de chorume tóxico e gás metano, produz fertilizantes naturais e gratuitos usados no jardim e na horta.

Sustentabilidade pode trazer felicidade, sim, quando a gente faz os trabalhos que gosta e encara as tarefas que não gosta (e que chamamos de trabalhos de merda). No cerrado central, uma comunidade fundamentada na permacultura reverteu a fragilidade do solo com muita bosta. Num bairro carente de Florianópolis, a comunidade deu cabo no lixo, nos ratos e nas doenças com a revolução dos baldinhos. Em um ano, 60 famílias reciclaram 30 toneladas de restos de comida, que usam para adubar suas pequenas e poderosas hortas urbanas. Visitei o novo aterro do projeto na semana passada e qual foi minha surpresa: um monte de bosta doada pela polícia montada agora também faz parte da arte de transformar resto em ouro."

Tatiana Achcar

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